Por Jornal A Onça

A única mulher a compor o quadro na Câmara Municipal de Campo Grande, Camila Jara (PT), foi diplomada nesta quarta-feira (16), no Plenário do  TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul).

A Onça conversou com a vereadora, assim que saíram os resultados das urnas. E ela fez questão de responder todas as mensagens de apoio recebidas e compartilhou com a nossa redação como os dias estavam sendo corridos e sempre com muito trabalho desde então.

Camila que escolheu como lema de sua campanha “Amar e mudar as coisas me interessa mais” uma música do cantor Belchior, trouxe com a sua eleição a esperança. De muitas mulheres que tem se sentido representadas com o nome dela na casa de leis. E o recado que ela manda para seus eleitores e para a população campo-grandense é de que a transformação está em nossas mãos.

“Acredite, acredite que onde você estiver você pode ser mudança, você pode ser transformação. A gente acreditou e juntou várias pessoas que acreditavam e conseguimos chegar aqui. Se nós conseguimos, sem dinheiro, mesmo tendo todas as probabilidades contra, todo mundo consegue. Então, se organizem e acreditem que é possível”, falou Camila.

A campanha de Camila se iniciou um ano antes das eleições conversando com a população entendendo as demandas e para quem acha que a mais jovem vereadora eleita, nos seus 25 anos, caiu no cargo ao acaso, muito se engana. Ela veio de uma construção política de berço e até chegar a ser candidata houve muito diálogo, estudo e preparação.

“O PT precisava de novos quadros, representando nossos ideais, para que conseguíssemos voltar a dialogar com a população. Foi decidido lançar a candidatura, que ia ser um jovem, não tinha nome, a gente não sabia quem era. E no decorrer do processo pediram para colocar o meu nome à disposição. De início eu falei: negativo. E [pensei] não tenho sobrenome, não tenho dinheiro, a campanha de vereador é a mais cara, é a mais disputada. Quando estudamos, a gente vê que uma das eleições mais difíceis é a de vereador. E aí eles falaram ‘não, Camila, temos a chance, pelo menos podemos lançar um debate bem bacana na cidade’. Levar nossas bandeiras, levar nossas pautas. Foi quando falei ‘tá bom vamos, mas eu só vou se for para fazer tudo em conjunto’. E desde então estamos fazendo tudo em conjunto. Conversando com as pessoas, ouvimos especialistas de várias áreas, entrevistamos mais de 700 pessoas em Campo Grande. Porque na minha percepção sobre a cidade, eu sabia que os bairros de Campo Grande estavam abandonados, que todo mundo reclamava da saúde, porque caminhando nas ruas, olhando olho no olho das pessoas percebemos isso. Entendi que era necessário uma confirmação científica, montada em dados e em todos os bairros. Os principais problemas levantados foram saúde, educação e transporte público. A partir daí começamos a consultar os especialistas para desenvolver propostas para essas áreas”, explicou a vereadora.

E a fruta não cai longe do pé, Camila é filha do jornalista Gerson Jara e da professora Edna Bazachi. Sua avó paterna, Narcisa, foi uma dos fundadores do PT em Campo Grande. Mas essa história quem nos conta é ela, então, fala Camila:

“Eu sempre fui militante desde muito nova, eu lembro de cenas, acho que eu tinha 6 anos de ir nos protestos com os meus pais. A minha avó era militante. E aos 15 para 16 anos comecei a militar por conta própria. Com isso senti que para transformar a sociedade era através da política. Eu não me sentia representada pelo modelo atual. Comecei a militar também através do movimento estudantil, discutíamos na época o Plano Nacional de Educação e a fomos para Congressos, debates. E quando eu voltei comecei a atuar em movimentos sociais daqui. Participei do Fórum Mundial da Juventude, participei do movimento de Mulheres, de alguns coletivos pelas causas indígenas. E qualquer movimento que estava disposto a melhorar a nossa sociedade, eu participava. E gostei tanto que [pensei] ‘eu tenho que estudar para entender melhor como funciona tudo isso para conseguir devolver um melhor resultado para a sociedade’. A militância é bom, é legal, mas eu senti a necessidade de aprofundar mais e aí eu entrei na faculdade de Ciências Sociais e Políticas na UFMS em 2017”.

E dá para acreditar que ela tentou estágio na Assembleia Legislativa e não conseguiu? Como desistir não tem vez na agenda da jovem petista ela alçou voos maiores

“Fui estudando, me envolvendo mais no movimento estudantil, fui me especializando, ano passado fiz estágio na Câmara Federal porque eu não consegui estágio aqui. Eu fui lá na Assembleia e falei ‘olha eu estudo Ciências Sociais e Políticas e queria ajudar aqui. Preciso de estágio e não precisa nem ser remunerado. Estou aqui para trabalhar. Aí viraram e falaram pra mim: desculpa, mas não tem o que uma cientista política fazer na Assembleia’. Então consegui estágio em Brasília e fui para Brasília. Eu entendi todo o funcionamento do legislativo, o tipo das comissões, como acontece os trabalhos a produção de leis, como encaminhar projetos. Aprendi como funcionava a instituição legislativa no Brasil. Eu estudava sobre isso na faculdade, mas eu pude aprender na prática. Mesmo eu, que já era envolvida com Movimento Sociais, já lia sobre isso, quando você tem o contato no dia a dia, você aprende que é completamente diferente. Geralmente tem aquela ideia ‘ah, político não trabalha’ e é 24 por 24. Eu não parei até agora”, conta Camila.

E esse modelo de estágio ela quer trazer para a Capital e dar oportunidade para os acadêmicos de Ciências Sociais de se engajar a atuar de perto de onde a política acontece.

“Eu quero implementar o modelo desse estágio aqui. Se a Câmara permitir quero implementar na Câmara daqui. Temos uma escola do Legislativo e pelo que pude ver ela está um pouco parada. É uma das nossas bandeiras.”

“Amar e mudar as coisas me interessa mais” 

“A gente veio num contexto de polarização política, várias pessoas tentaram trazer pautas de bola dividida para a campanha. E analisamos que ficar entrando nessas bolas divididas, ficar falando o que o Bolsonaro falou ou o que ele deixou de falar. [Assim] não conseguiríamos mudar as coisas. Porque você vai tratar ódio com ódio. Então decidimos por pensar e construir um sonho de uma Campo Grande melhor. Mas um sonho totalmente real, tanto é que as nossas propostas são fáceis de serem colocadas em prática. Porque amar e mudar as coisas interessa mais pra gente”

Ela sabe que como parte do quadro de renovação do PT e a figura de representatividade de muitas mulheres vai ser um trabalho árduo e de muita responsabilidade. E como quem vem caminhando desde a militância e construindo uma base sólida ela tem noção que a luta segue, é dura, e não a teme.

“Precisamos dar o máximo para responder a todas as expectativas. Ao mesmo tempo que posso ser a inspiração para mais pessoas e fazer com que mais jovens se destaquem, nós também podemos fechar as portas para muita gente . Então para não acontecer isso estarei em contato com as bases o tempo inteiro e vou apoiar novos quadros que surgirem. Aquela velha frase da Angela Davis ‘uma sobe e puxa a outra’.

 

Publicado em: https://www.aonca.com.br/camila-jara-foi-diplomada-como-vereadora-e-reacendeu-a-estrela-do-pt-na-camara/