A deputada federal Camila Jara (PT-MS) destinou R$800 mil em emendas para impulsionar a produção de alimentos saudáveis, o reflorestamento com espécies nativas e ações de educação popular em comunidades indígenas e assentamentos da região de Dourados (MS). O recurso será aplicado pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), articulada ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo Federal.
O projeto tem duração prevista de dois anos e já está em fase de diagnóstico. As próximas etapas envolvem escuta comunitária, mapeamento participativo e execução das ações. Os primeiros resultados práticos da produção agroecológica são esperados em até 40 dias após o início da implantação das roças tradicionais.
Com foco na segurança alimentar, na agroecologia e na formação de consciência popular, a proposta pretende atender diretamente pelo menos 200 famílias e alcançar até 500 de forma indireta. Os alimentos serão destinados à Cozinha Comunitária do Governo Federal e ao fornecimento de marmitas para a população em situação de vulnerabilidade. Escolas, creches e hospitais públicos da cidade também serão abastecidos com comida agroecológica e de qualidade.
“Esse recurso é mais do que investimento em produção de alimentos — é um gesto político em defesa da vida. Estamos fortalecendo quem planta, quem resiste e quem transforma. O projeto mostra que é possível enfrentar a fome e as injustiças do campo com organização popular, consciência e comida de verdade na mesa de quem mais precisa”, afirma a deputada Camila Jara.
A ação será estruturada em três frentes de trabalho: produção de mudas e espécies nativas em viveiros; implantação de roças agroecológicas coletivas; e mobilização social com foco em formação, informação e divulgação popular.
Entre os territórios diretamente envolvidos estão o Acampamento Esperança, o assentamento Faeca, a terra quilombola Picadinha, Fundos da Bororo e Passo Piraju (em Dourados); Ivy Ajeré e Kurupayty (em Douradina); e Tajassu Iga e Laranjeira Nhanderu (em Rio Brilhante), além da turma de Agroecologia do PRONERA.
A proposta também dialoga com a realidade crítica da segurança alimentar no estado. Hoje, 87% dos alimentos consumidos no Mato Grosso do Sul vêm de fora, enquanto o estado registra altos índices de subnutrição. A iniciativa atua diretamente nesse paradoxo: fortalece a produção local, a autonomia alimentar e a economia das comunidades.
Para a professora Judite Stronzake, da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), o projeto vai além do combate à fome. “Será um grande processo de aprendizagem e de recuperar a tradição de produzir comida, no método tradicional dos indígenas, dos sem-terra, para matar a sua fome, a da comunidade, e abastecer a rede urbana.”
Judite reforça que o objetivo também é enfrentar o modo de produção insustentável, o uso de agrotóxicos e o aquecimento da terra, por meio de práticas sustentáveis e coletivas. “Não só alimentar a fome do estômago, mas também a fome da consciência. Acaba a emenda, mas o povo continua organizado, consciente e se organizando para buscar os seus direitos e obter conquistas estruturais.”
Ela destaca ainda o papel do projeto na construção da soberania popular: “Esse projeto é sobre o povo produzindo, com auxílio da deputada. É a auto-organização do povo que tem o poder de transformar, através de uma rede que aqui se produz, aqui se abastece e consome. Não precisa vir de outros estados ou entidades. O Mato Grosso do Sul é capaz de produzir.”
A deputada estadual Gleice Jane (PT) é uma das articuladoras da iniciativa e defende a pauta como prioridade em seu mandato. “Essa parceria é o nosso compromisso real com a produção sustentável e a justiça social. É a soma de forças para impulsionar a agricultura familiar e a produção de alimentos livres de agrotóxicos, com o intuito de fortalecer as populações do campo em nossa região. É com investimento e políticas públicas que reconhecemos setores fundamentais para a economia, a segurança alimentar e o desenvolvimento com sustentabilidade”, afirma a parlamentar.