Se as eleições de 2018 ficaram marcadas pelas candidaturas laranjas de mulheres, o movimento Vamos Juntas deseja que o pleito municipal de 2020 seja lembrado pela forte presença feminina na política. Ele é composto por 53 mulheres de todos os estados do país, selecionadas em um processo rigoroso entre mais de 1200 inscritas. A escolhida de Mato Grosso do Sul é Camila Jara, 25 anos, moradora de Campo Grande.
O Vamos Juntas se apresenta como um movimento suprapartidário, ou seja, sem ligação com qualquer partido e visa potencializar as chances de eleições femininas no pleito municipal deste ano. Entre os apoiadores do projeto estão Pedro Bial, Bela Gil, Fábio Porchat e Mara Gabrilli, além de outras figuras públicas importantes em todo o país.
A jovem Camila Jara, única representante de Mato Grosso do Sul, é estudante de ciências sociais e políticas na UFMS. Filiada ao Partido dos Trabalhadores, ela é líder municipal do Movimento Acredito e aluna avançada do RenovaBR, escola política que forma novas lideranças.
“A maior participação de mulheres nos cargos de poder, e aí incluo não só na política, mas em todos os setores da sociedade, é uma das minhas bandeiras. Inclusive lançamos este ano em Campo Grande o movimento Elas Podem com esse objetivo. É totalmente desproporcional sermos mais da metade do eleitorado, mas ocuparmos apenas 15% dos cargos eletivos”, ressalta Camila.
Processo Seletivo
As candidatas passaram por rigorosas etapas seletivas, que contaram com entrevistas, análise da trajetória e atuação política, bem como um diagnóstico sobre os valores e objetivos para o ano eleitoral.
Inclusão social, equidade, democracia efetiva, diversidade e ética na política são os principais valores do programa, e para fazer parte dele era necessário estar alinhado a esses ideais. O Vamos Juntas fornecerá às candidatas um programa de mentoria, formação política, apoio em rede e desenvolvimento pessoal. A mentoria, por exemplo, começa já a partir de abril.
Representatividade
O foco nas eleições municipais de 2020 visa reverter um conhecido quadro de sub-representação feminina na política, que se acentuou em 2016. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), somente 641 mulheres foram eleitas para o cargo de prefeita nas últimas eleições municipais. O número representava 11,57% do total. O resultado representou queda em relação ao pleito de 2012, quando houve 659 prefeitas eleitas (11,84% do total).
O percentual de municípios com organismos executivos de políticas para mulheres caiu para 19,9% em 2018, redução de 7,6 pontos percentuais em relação a 2013 (27,5%). Com isso, o número aproxima-se do patamar que tinha em 2009, quando era de 18,7%. Os dados são do Munic 2018, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com a Organização Internacional de Trabalho (OIT), em 2019, a participação feminina no mercado de trabalho era quase 20% inferior aos homens (52,7% contra 71,5% deles). Quando se trata de cargos de liderança, as mulheres ocupam 25% deles dentro dessas empresas. Para os cargos do mais alto nível nas corporações, apenas 15% das empresas possuem uma mulher no topo. As mulheres têm somente 18% dos títulos de graduação em ciência da computação e representam, atualmente, 25% da força de trabalho da indústria digital.
No Brasil o ideal é ainda mais distante da realidade: 3 em cada 10 pessoas admitem que se sentem desconfortáveis em ter uma mulher como chefe. Os dados são da pesquisa Atitudes Globais pela Igualdade de Gênero, publicada no ano passado pelo Instituto Ipsos.
Nas eleições existe a obrigação legal de cada partido ter, pelo menos, 30% das vagas para candidaturas preenchidas por mulheres. No entanto, o disposto na Lei nº 9.504/97 tem ficado só no papel. Exemplo disso são os escândalos nas Eleições de 2018 de candidaturas laranjas de mulheres que entraram no pleito somente para cumprir a cota. O Vamos Jutas vem com força para reverter esse quadro.