Com uma tiara escrito Elas Podem na cabeça e vários adesivos nas mãos com a mesma frase, era possível ver a jovem Camila Jara, 25 anos, abordando com um sorriso as mulheres que chegavam na Esplanada Ferroviária de Campo Grande, em pleno sábado de carnaval.  A poucos metros dali estavam Ladielly, Gabriela, Aimê, Karô, Glória e Isabella, todas na mesma missão. Mas afinal, o que tanto Elas Podem?

“A gente acha que investindo no autoestima da mulher, se ela souber que pode ser o que ela quiser, vão diminuir inclusive os índices de violência”, explica Camila. “Então a ação no carnaval aconteceu com esse intuito, para que elas se sintam empoderadas e que são donas de suas próprias vontades”. (Você pode assistir um vídeo da ação no final desta matéria)

A estudante Ladielly de Souza Silva, 23 anos, ficou surpresa quando percebeu que até os homens começaram a aderir e perguntar se poderiam colocar os adesivos. “O bacana é que é uma ação que não morreu no carnaval porque, a partir da repercussão nas redes sociais, já vieram falar comigo pra participarem das próximas”.

O Coletivo Elas Podem, formado há pouco mais de um mês, traz em seu manifesto frases como “as demandas das mulheres são questões sociais” e “nossa voz não será silenciada ou diminuída”. O grupo busca ainda reafirmar a participação feminina na arte, na política, no direito, no empreendedorismo, nos espaços de poder e onde mais elas quiserem.

A administradora Aimê Barbosa Martins Bast, 30 anos, também foi voluntária do projeto de conscientização no carnaval. “A experiência foi melhor do que a gente imaginava. Fiquei muito feliz em ver como as mulheres estão conscientes e que a sociedade está olhando pra essa questão do assédio e do empoderamento feminino. É muito bom ter essa sensação que não estamos sozinhas e que nossa luta está se expandindo”.

Porém, em um Estado que ostenta o nada honroso título de ser o único do país a não ter sequer uma mulher na Assembleia Legislativa e que registra altos índices de violência doméstica e feminicídio, o desafio é grande.

Para a pós-doutora em Psicologia Social Jacy Corrêa Curado, que é vice-coordenadora do Observatório de Violência contra a Mulher da UFMS/SEMU, a política ainda tem um nicho masculino, branco, muito forte. “Temos raízes patriarcais muito fortes. Machismo e patriarcado fazem parte desse Brasil profundo e a gente ainda não conseguiu remover essas estruturas. Questões raciais, de gênero e de desigualdade ainda estão aí para serem resolvidas”, explica. “Se você pesquisar, vai ver que até a Arábia Saudita está melhor representada pelas mulheres do que o Brasil”.

Camila endossa o discurso da professora. “Faltam mulheres protagonizando em nosso Estado, principalmente na política. Se somos mais da metade de população, porque não temos pelo menos metade dos cargos de liderança?”, questiona, lembrando que as mulheres compõem 52% dos eleitores em Mato Grosso do Sul.

Quando perguntada sobre o porque de mulher não votar em mulher, a pesquisadora Jacy foi enfática: “não é que mulher não vota em mulher, mas temos ainda poucas mulheres candidatas, com poucos recursos”. Para ela, porém, “chegou a hora da virada para as mulheres. A potência da mudança é agora”.