Mesmo entre os que nasceram em Campo Grande, muitos reconhecem apenas José Antônio Pereira como fundador da cidade. Essa é a história que é contada.
Mas a verdadeira história da capital sul-mato-grossense passa por Eva Maria de Jesus, a Tia Eva.

Formado em História pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), o professor Jorge Ribeiro Diacópulos conta que nunca tinha ouvido falar de Tia Eva como co-fundadora da nossa Capital, nem nos bancos escolares, nem nas disciplinas de história regional da faculdade, nem no começo de sua carreira docente. 

No entanto, a sanção da Lei nº 10.639/03, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional estabelecendo a obrigatoriedade de trabalhar história e cultura afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, exigiu algumas capacitações para os professores e umas delas foi uma aula de campo na Comunidade Tia Eva. Houve também um outro projeto na comunidade que envolveu as disciplinas de língua portuguesa e artes. 

Encarando o desafio de fazer parte da primeira turma do Mestrado em História da UEMS em Campo Grande, Jorge percebeu que tinha um problema nas mãos e se dedicou a solucioná-lo da melhor maneira. “A lei que exige abordar esse tema em sala de aula é uma política de reparação, mas temos dificuldade de encontrar materiais para trabalhar em sala de aula. Então fui atrás de construir e elaborar esse material”, explica.

A ideia inicial é que fosse um livro paradidático, mas a pandemia mudou o jeito das escolas ensinarem, priorizando o on-line, o virtual, e então Jorge fez uma adaptação para um website interativo com ferramentas modernas de ensino e aprendizagem. 

No endereço www.comunidadequilombolatiaeva.com.br, é possível encontrar mapas, fotos, fazer um tour virtual pela comunidade, um jogo estilo quiz, pesquisas realizadas por outros pesquisadores sobre a comunidade, e muito mais. 

Jorge conta que enfrentou algumas dificuldades para concluir a pesquisa e elaborar o site. “Existem livros que contam a história da cidade, mas esses livros silenciaram Tia Eva, apagaram sua história. Então fui a campo pesquisar, mas essa é uma comunidade muito ligada à tradição oral, não tem registros escritos, tem sido uma descoberta para os próprios moradores”, conta.

A Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Campo Grande, por meio da vereadora Camila Jara (PT), está viabilizando os recursos para registros, licenciamento, manutenção do site na web, entre outras providências que o projeto precisa para que tenha continuidade e sirva como fonte pedagógica para professores e alunos. 

Para o secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Cidadania e Cultura, Eduardo Romero, o projeto é interessante e cumpre várias funções. “Gera conhecimento técnico e científico, também tem muito potencial de gerar curiosidades turísticas, um fluxo de pessoas visitando, interagindo, além de colaborar com o resgate da identidade da comunidade, o sentimento de pertencimento daquelas pessoas”, afirma.

De acordo com Romero, Mato Grosso do Sul possui 22 comunidades quilombolas, 3 delas estão em Campo Grande. “A maioria das pessoas não conhece, não sabe o início da nossa história”, comenta Romero, que também destaca o trabalho da secretaria na comunidade, como a requalificação da igreja da comunidade e do centro comunitário que fica no entorno, entre outros apoios tanto da área de assistência social como produção de políticas públicas.